
‘A justiça tarda, mas não falha’. É um ditado popular que trata da esperança de que a justiça, mesmo que demore a ser cumprida, será aplicada e os culpados serão punidos. É um lembrete da esperança em um sistema legal que, apesar de suas falhas, busca a verdade e a correção de erros.
Será que é assim mesmo? Penso que para os que acreditamos na existência de Deus, na imortalidade da alma, na reencarnação, na comunicabilidade dos espíritos e a pluralidade dos mundos habitados, ou pelo menos nas duas primeiras, a justiça só aplica, plenamente, no que um espírito, Humberto de Campos, falecido em 1934, chamou de Justiça de Cima, no livro Contos e Apólogos, ditado em 1957 a Chico Xavier.
Para exemplificar, o escritor maranhense, após 23 anos da morte física, contou-nos, no livro, em resumo:
‘Quatro operários solteiros, quase todos da mesma idade, compareceram ao tribunal de Justiça de Cima, depois de haverem perdido o corpo físico, num acidente.
Na Terra, foram analisados por idêntico padrão. Excelentes rapazes, aniquilados pela morte, com as mesmas homenagens sociais e domésticas. Na vida espiritual, contudo, mostravam-se diferentes entre si, cada qual foi conduzido ao juiz que lhes examinara o processo, durante alguns dias, atenciosamente. O magistrado convidou um a um a lhe escutarem as determinações, em nome do Direito Universal.
Ao primeiro deles, disse, bondoso: -De tuas notas, transparecem os pesados compromissos que assumiste, utilizando os teus recursos de trabalho para fins inconfessáveis. Há viúvas e órfãos, chorando no mundo, guardando amargas recordações de tua influência. Voltarás onde viveste e recomeça a luta de redenção, reajustando o equilíbrio daqueles que prejudicaste. És naturalmente obrigado a restituir-lhes a paz e a segurança.
O segundo ouviu as seguintes considerações: -Revelam os apontamentos a teu respeito que lesaste a fábrica em que trabalhavas. Detiveste vencimento e vantagens que não correspondem ao esforço que despendeste. -Tornarás ao teu antigo núcleo de serviço e auxilia os teus companheiros e as máquinas que exploraste em mau sentido. É indispensável resgates os débitos de alguns milhares de horas, junto deles, em atividade assistencial.
Ao terceiro disse o juiz, generoso: -As informações são que: Não te valeste das tuas possibilidades de serviço para prejudicar os semelhantes, não traíste as próprias obrigações e somente recebeu do mundo aquilo que te era realmente devido. A tua consciência está quite com a Lei. Podes escolher o teu novo tipo de experiência, mas ainda na Terra, onde precisas continuar no curso da própria sublimação.
Em seguida, surgiu o último. O juiz inclinou-se, diante dele, e informou: -Meu amigo, a colheita de tua sementeira confere-te a elevação. Serviços mais nobres esperam-te mais alto. O trabalhador humilde, como que desejoso de ocultar a luz que o coroava, afastou-se em lágrimas de júbilo e gratidão, nos braços de velhos amigos que o cercavam, contentes, e, em razão das perguntas a explodirem nos colegas despeitados, que o conheciam como um simples homem de trabalho, o julgador esclareceu persuasivo e bondoso:
-O irmão promovido é um herói da renúncia. Nunca causou prejuízo a alguém, não se limitou a ser correto. Sacrificava-se pelo bem de todos. Sorria e auxiliava sempre. Centenas de corações seguiram-no, além da morte, oferecendo-lhe preces, alegrias e bênçãos.
A Lei Divina jamais se equivoca. Assim, o tribunal da Justiça de Cima, encerrou a sessão.’
E concluo dizendo que o texto acima trata-se de um apólogo. Todos seremos julgados pela própria consciência, automaticamente, (‘inteligência divinal’, digamos). O veredito dependerá de nossas ações na encarnação finda. Para muitos de nós haverá prantos e ranger de dentes. Períodos de sofrimentos, antes da volta para o resgate das dívidas. Mas ainda há tempo para mudarmos.
Ladrões do erário e aposentados, por exemplo, não esperem ‘anistia’.
Akino Maringá, colaborador
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